Vozes Peregrinas

Ter uma boa perspectiva está cada vez mais difícil. Viver em um mundo alienado pelo deus deste século dá uma sensação de que todo mundo quer puxar o seu tapete. É assim que me sinto muitas vezes quando tento compreender o atual contexto brasileiro.

Quem ler este texto no site de uma igreja evangélica pode se perguntar: “qual a relevância disso?” Eu digo que é enorme. Ministrar a Palavra de Deus e, sobretudo viver conforme esta Palavra, requer muita perseverança, acompanhada de discernimento para que se possa entender o sentido de estarmos aqui.

Dentre os livros que já li, “O Peregrino”, de João Bunyan, é um dos que mais me impressionam. Nele, o autor narra ‘a história da viagem de um Cristão à cidade celestial’. Escrito no Século XVII, tornou-se um clássico. O escrito de maior circulação, depois da Bíblia, nos séculos seguintes.

A habilidade do escritor com as palavras para ilustrar a jornada de Cristão é fascinante. A personificação dos sentimentos humanos e a forma como o viajante lida com eles atrai o leitor para dentro da história levando-o a identificar-se fortemente com Cristão em seu desejo de alcançar a bem-aventurança eterna.

Arrebatado pelo texto, eu quis saber mais sobre o autor e, confesso que não imaginava o impacto que isso me causaria. Seu testemunho é inspirador. O próprio livro “O Peregrino” foi escrito enquanto Bunyan estava preso. Foram muitos julgamentos e ameaças porque ele pregava o evangelho de Cristo, o que lhe custou doze anos de prisão.

A época em que João Bunyan viveu também era completamente alienada pelo estado que instrumentalizou a religião a fim de concentrar o poder e moldar a sociedade conforme a vontade de seus líderes. Mesmo assim, ele não se rendeu ao sistema e perseverou em sua missão: pregar o evangelho em qualquer oportunidade que tivesse.

A maioria dos cristãos em nosso tempo não estão prontos para isso. Não suportam nem ler um comentário na internet e já estão prontos para um acalorado e insensato debate, sempre com o argumento ímpio de que não leva desaforo para casa. Neste caso, também não leva unção ou bênção alguma.

Precisamos olhar para o testemunho dos homens e mulheres de Deus que transcendem a história. João Bunyan é um Abel de sua época em mansidão e fé:

Hebreus 11.4 – Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala.

Assim como o testemunho de Abel, a vida de João Bunyan continua falando através de seus escritos. Depois de morto, ainda fala. Isso só é possível porque ele tinha plena confiança em Deus e se entregou sem reservas. Nós devemos aprender com ele para que, passada nossa geração como peregrinos que somos, nosso testemunho continue a falar do Mestre Jesus.

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